Pimenta da Mata Atlântica e Virola Surinamensis

Dois professores do Instituto de Química da Universidade de São Paulo: Massayoshi Yoshida, já aposentado, que durante 20 anos trabalhou diretamente com Otto Gottlieb, e Massuo Jorge Kato, em parceria com o farmacêutico Norberto Peporine Lopes e o farmacólogo Sérgio Albuquerque, da USP de Ribeirão Preto, eles isolaram em grande quantidade duas substâncias de uma planta do gênero Piper, que inclui as pimentas, originária da Mata Atlântica, com ação contra o protozoário Trypanosoma cruzi, causador da doença de Chagas. São compostos químicos chamados de glandisinas. As duas substâncias isoladas são lignóides, uma classe de metabólitos que abarca uma série de substâncias usadas como medicamentos, a exemplo do teniposídeo e do etoposídeo, usados no tratamento de algumas formas de câncer. Os professores Massuo Jorge Kato e Massayoshi Yoshida, preocupados com a proteção intelectual de suas descobertas, encaminharam em agosto de 1999 o pedido de patenteamento de duas substâncias antichagásicas, isoladas de uma laurácea da Amazônia e de uma piperácea da Mata Atlântica de São Paulo.

 

Segundo Kato, pesquisador do Laboratório de Química de Produtos Naturais do Instituto de Química da USP (LPQN), um dos resultados mais importantes obtidos são as lignanas com atividades antichagásicas, sendo que a primeira descoberta foi feita no LPQN a partir de estudos de extratos de galhos de Virola surinamensis, uma espécie arbórea da Amazônia. Esses resultados, já devidamente patenteados, foram obtidos em conjunto com os professores Massayoshi Yoshida, do Instituto de Química, Norberto Lopes e Sérgio Albuquerque, da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da USP de Ribeirão Preto. Kato conta que essa mesma lignana foi, mais recentemente, descoberta com teores muito mais elevados, só que em uma espécie de Piperaceae nativa da mata atlântica. Animado com a descoberta, o pesquisador diz que a próxima etapa tentará a obtenção de derivados naturais e sintéticos visando a aumentar a atividade antichagásica para o desenvolvimento de um agente profilático que possa ser utilizado em bancos de sangue ou até em forma de medicamento para a cura da doença de Chagas.

Lopes trabalhou na região Amazônica durante muito tempo. Na época conheceu a Virola Surinamensis, uma planta originária daquela região e muito utilizada pelos índios e ribeirinhas no combate à malária. Estudos revelaram a atividade antimalárica dessa planta, mas sua estrutura química demonstrou não ser significativa para uso farmacêutico para este fim, relatou o professor. Além da ação antimalárica, algumas substâncias dessa planta apresentaram alto poder profilático no combate ao hospedeiro da doença de Chagas, a exemplo da ação da substância metilpluviatolide isolada pelo Prof. Jairo Kenupp, também da FCFRP, da planta Mamica de Cadela, descoberta recentemente divulgada na imprensa. A diferença das substâncias da Virola Surinamensis para a metilpluviatolide é que a primeira apresenta uma ação profilática muito mais ativa, sendo necessários somente 2,5 microgramas por ml, aproximadamente 10 vezes menos que a segunda, para sua ação preventiva. Estudando a Virola na FCFRP, a equipe de pesquisadores isolou nove substâncias. Dessas, somente duas foram selecionadas e patenteadas, por serem as mais ativas. Lopes alerta porém que os testes foram realizados somente na forma “in vitro” e para uso profilático, não se tratando de medicamento, pois as Lignanas não são solúveis em sangue. Com a patente, tudo que for feito a partir dessas substâncias, durante cinco anos após sua concessão, pertencerá a USP. Lopes relata ainda que a pesquisa sobre os efeitos da Virola no homem, no combate à malária, constataram que a substância não cura a doença, apenas inibe a ação do parasita durante o quadro febril, aliviando a situação de desconforto.

 

Fonte:

http://www.fapesp.br/ciencia518.htm

http://www.usp.br/jorusp/jusp511/manchet/rep_res/rep_int/boxpesqui3.html

http://www.pcarp.usp.br/acsi/anterior/688/mat2.htm

agosto de 2002

Agradeço ao pesquisador Massuo Jorge Kato ([email protected]) pela revisão do artigo em outubro de 2005

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