“Computador Patinho Feio”

Em 1962, a Escola Politécnica da USP adquiriu um IBM 1620, tornando-se uma das primeiras instituições universitárias do país a possuir um computador. Em 1968, o então Departamento de Engenharia de Eletricidade criou o Laboratório de Sistemas Digitais (LSD), e um segundo IBM 1620 chegou à Escola Politécnica, com recursos de um legado recebido de um convênio com a Fundação Álvares Penteado, para ser desmontado e estudado no LSD num procedimento de “engenharia reversa”. A ideia era promover a integração do computador com outros sistemas feitos pelo usuário. A política das grandes empresas multinacionais era justamente desestimular esse tipo de atividade. Mesmo assim, os pesquisadores do LSD começaram a hibridizar o sistema, misturar componentes feitos aqui com os originais da IBM. Surgiram problemas porque a IBM se manifestou afirmando não ser possível fazer a manutenção do sistema. Foi possível superar o impasse e a IBM chegou mesmo a cooperar. Assim foram instalados diversos aparelhos periféricos desenvolvidos no Brasil, como plotters, osciloscópios com unidades de saída e equipamentos afins. Essas tarefas resultaram igualmente nas primeiras teses universitárias do grupo do LSD. A. Aguiarre Massola trabalhou com plotters, enquanto F. de Oliveira Dias ocupava-se com as saídas de osciloscópios. Todos esses aparelhos eram feitos no LSD, com modificações no software do circuito para poderem ser usados. Graças a experiência adquirida nesse esforço foi possível criar uma opção digital para o curso de pós-graduação em Eletrônica, em 1970, o que permitiu o contato com pesquisadores de outros países. 


Entre os primeiros estrangeiros que chegaram ao LSD, estavam Jim Rudolf, da Hewlett Packard e Glen Lanfdon , da IBM. Este último também teria um papel importante na construção do “Patinho Feio”, um computador de oito bits, o primeiro do gênero no país. Especialista em arquitetura de computadores, Glenn Langdon ministrou curso em 1971, na USP. O Patinho Feio foi concebido como um trabalho de fim de curso, com a participação de todos os alunos e concluído em julho de 1972. No mesmo mês a reitoria da USP firmava com a Marinha e a Seplan uma carta de intenções destinada a desenvolver o projeto de um microcomputador. Seguiu-se a assinatura do projeto Funtec 111, financiado pela Finep, com o objetivo de construir um protótipo de computador digital para a Marinha Brasileira. A USP comprometia-se a construir um protótipo, transferindo a tecnologia para a Equipamentos Eletrônicos (EE) no Rio de Janeiro. Essa empresa privada foi indicada pela Marinha, já que era uma de suas fornecedoras de equipamentos. O repasse acabou não acontecendo, mas em 1975 a Cobra adquiriu o projeto, lançando o Sistema 500 (MC 500) com hardware e software totalmente desenvolvidos no Brasil, na Escola Politécnica da USP.
Em torno do LSD, foi criada toda uma estrutura de pesquisa e pós-graduação em eletrônica digital, uma iniciativa pioneira no Brasil. O programa contava com professores estrangeiros e incluía até o projeto e a construção de um protótipo de computador. Quando o primeiro protótipo estava em fase de montagem, chegou a notícia de que a Marinha desejava equipar algumas fragatas recém-compradas com computadores nacionais. O LSD candidatou-se ao projeto, contando com a experiência que tinha na área. A Unicamp também se interessou pelos planos da Marinha e, em homenagem a ela, batizou de Cisne Branco o computador que começava a desenvolver. A partir de uma brincadeira com o nome Cisne Branco, surgiu o nome do computador do LSD: Patinho Feio. Por volta de julho de 1972, depois de muito trabalho, o computador finalmente ficou pronto. Tinha um metro de altura, 80 centímetros de largura, pesava mais de 1.000 quilos e possuía 450 pastilhas de circuitos integrados, formando 3 mil blocos lógicos distribuídos em 45 placas de circuito impresso. A memória podia armazenar 4.096 palavras de 8 bits, o equivalente a 4 Kbites de memória. Foi o primeiro computador construído no país. O Patinho Feio criou uma base para a pós-graduação e para o G-10 (segundo computador digital totalmente projetado pelo mesmo grupo da USP) e se tornou um pontapé inicial para a formação de recursos humanos na área de eletrônica digital e software básico no Brasil, além de ter sido imprescindível para constituir o alicerce da indústria digital”, conclui a Prof. Edith Ranzini (USP), que participou do projeto. 
O grupo da Poli preparou o Patinho Feio por três anos. O contrato com a Marinha, chamado de G-10 em homenagem ao comandante Guaranis, ex-aluno da Poli e falecido prematuramente aos 36 anos, era a grande meta do programa. O número 10 foi escolhido arbitrariamente baixo, indicando o primeiro modelo de uma possível série. O governo queria um computador feito em solo nacional que pudesse substituir os computadores Ferranti, que equipavam fragatas compradas da Inglaterra. O contrato era grande, de alguns milhões de dólares e em alguns momentos chegou a envolver cerca de 60 engenheiros de diversas áreas, afirma Vieira. Patinho Feio ganhou esse nome porque o hino da Marinha faz alusão a um cisne branco. O desenvolvimento do computador, do qual tomou parte Antônio Hélio Guerra Vieira, serviu também como exercício e treinamento dos alunos da Poli. Já nas mãos do governo, foi usado como base para uma nova empresa fabricante de equipamentos, chamada Computadores Brasileiros (Cobra), com sede no Rio. O comandante José Luiz Guaranis foi personagem de destaque nas articulações para a formação da Cobra. O G-10 serviu de base para o projeto de outros computadores projetados no Brasil pela Cobra, como o G-11, versão comercial do G-10 e o Cobra 530, que partiu da arquitetura básica do G-11. O Cobra 530, lançado no início da década de 80, foi o primeiro computador totalmente projetado, desenvolvido e industrializado no Brasil. 

Formado pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, o engenheiro mecânico e eletricista Antônio Hélio Guerra Vieira viria mais tarde exercer as funções de reitor da USP e presidente do Instituto de Engenharia. O projeto atraiu muita atenção na época, para surpresa dos engenheiros, que fizeram um texto de 14 páginas, incluindo diagramas, para explicar do que se tratava. “Era tanta novidade, quisemos desmistificar um pouco o computador”, diz Vieira. O Patinho Feio é tido como o primeiro computador, documentado e com estrutura de computação clássica, desenvolvido no Brasil. Aos 72 anos, o ex-reitor da USP e atual diretor do Instituto de Engenharia recebeu o prêmio Professor Emérito 2002, concedido pelo Estado e pelo Centro de Integração Empresa Escola (CIEE). 
Quase que ao mesmo tempo, outras iniciativas pioneiras tomavam corpo na Escola Politécnica. Em abril de 1970, uma comissão do governo federal, composta pelo CNPq, BNDES e Fapesp, visitou o Departamento de Engenharia de Eletricidade. Aproveitou-se a ocasião para propor a construção de um laboratório de circuitos integrados. Os professores da Politécnica estavam em contato com a empresa Fairchild, que havia fechado uma de suas fábricas nos Estados Unidos, e havia então a possibilidade de comprar o equipamento. A ideia foi aceita e o equipamento foi comprado. Em abril de 70 foi inaugurado o Laboratório de Microeletrônica (LME) e um ano mais tarde, em abril de 1971, foi construído o primeiro circuito integrado da América Latina. Algum tempo depois, em 1984, durante a administração do professor Hélio Guerra Vieira, a USP decidiu pela descentralização dos serviços computacionais da Universidade. A partir de então, começou-se a adquirir grandes quantidades de computadores, e estes se espalharam por toda a Universidade. 

Fonte: http://www.santista.com.br/fundacao/galeria/exatas/pagina.htm 
http://luciano.stanford.edu/~franca/ita/pub/ita.html 
http://www.lsi.usp.br/~chip/de_onde_vieram.html 
http://www.ifi.unicamp.br/IFWeb-PT/midia/67-Pesquisa-asga-opto.pdf 
acesso em março de 2002
http://200.177.98.79/jcemail/Detalhe.jsp?id=3664&JCemail=2082&JCdata=2002-07-24 
http://www.engenhoeditora.com.br/entrevista544.htm 
http://www.engenheiro2001.org.br/programas/e-vieira.htm 
http://www.cesar.org.br/analise/n_27/fra_prim-computador.html 
http://www.mci.org.br/fabricante/cobra.html 
acesso em julho de 2002 
http://www.jornaldaciencia.org.br/Detalhe.jsp?id=5508 
acesso em outubro de 2002 
http://www.usp.br/jorusp/arquivo/2002/jusp607/pag08.htm 
acesso em fecereiro de 2003 

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