“Catalisador para Biodiesel”

A Unicamp assinou no dia 16 de abril de 2007 um acordo de licenciamento de tecnologia com a empresa BioCamp, sediada em Campo Verde, no Mato Grosso. Pelo acordo, a BioCamp poderá explorar durante 20 anos, de forma não exclusiva, a patente de um novo catalisador que atua na transformação de óleos vegetais e gordura animal em biodiesel. O catalisador foi desenvolvido na Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) pelo aluno de doutorado Osvaldo Candido Lopes, com orientação do professor Antônio José da Silva Maciel. Para utilizá-lo, a BioCamp construiu em menos de 12 meses uma usina que poderá chegar a produzir 60 milhões de litros de biodiesel por ano. A usina deverá ser inaugurada em 7 de maio, possivelmente com a presença do presidente Lula. De acordo com Luis Fernando Cabrino, um dos sócios-proprietários da empresa, o investimento total na usina será de aproximadamente R$ 10 milhões. Durante a cerimônia de assinatura do acordo, Maciel explicou que o processo denominado transesterificação faz com que os óleos vegetais ou as gorduras animais reajam com um álcool, produzindo biodiesel e glicerina. O novo catalisador acelera esse processo e proporciona um rendimento de 99%. Ao contrário dos catalisadores de primeira e segunda geração — lançados, respectivamente, nas décadas de 1930 e 1990 —, este licenciado agora não depende de matérias-primas importadas e não contém metais, o que evita a formação de sabão durante a produção do biodiesel. Além disso, é adequado a processos contínuos de larga escala.

 

O processo de obtenção de biodiesel a partir de óleos vegetais e gorduras animais utilizando metanol já é bastante conhecido, e seu rendimento gira em torno de 96%. Já a produção de biodiesel utilizando etanol apresenta um cenário bastante distinto. Os processos até então desenvolvidos apresentam rendimento inferior a 95%, além disso, o produto final não se enquadra nos padrões exigidos pela ANP 42. Um dos principais problemas nesta produção tem relação com os catalisadores utilizados que, por conterem íons metálicos, induzem formação indesejada de sabão ou emulsão. A presente patente apresenta um processo de obtenção de biodiesel etílico, metílico e outros ésteres alquílicos, com rendimento acima de 99% e sem apresentar os problemas anteriormente descritos. O processo pode utilizar o etanol anidro em substituição ao metanol sem qualquer inconveniente. Com isso, obtêm-se um biodiesel etílico, sem a necessidade de produtos derivados do petróleo, tornando-se ainda mais ecologicamente correto.

O docente destaca, porém, que a pesquisa não teria avançado se não tivesse contado com a colaboração de outros professores da Universidade, como Lireny Aparecida Guaraldo Gonçalves e Renato Grimaldi, da Faculdade de Engenharia de Alimentos (FEA), além de Matthieu Tubino e Pedro Faria dos Santos Filho, do Instituto de Química (IQ). “Essa sinergia foi fundamental para a evolução das investigações, bem como para transformar um projeto que estava em escala laboratorial em um aplicável à indústria”, afirma.

O catalisador desenvolvido pelos pesquisadores da Unicamp tem a função de promover o que os especialistas chamam de transesterificação. De maneira simplificada, o processo cumpre as seguintes etapas. Primeiro, é adicionado um álcool simples (etanol, no caso) à matéria-prima. Depois, junta se à mistura o catalisador. Em seguida, uma reação química quebra a cadeia de carbono da gordura animal ou do óleo vegetal, dando origem a dois produtos nobres distintos: biodiesel e glicerina. Esta última é muito utilizada pelas indústrias farmacêutica e de cosméticos. Segundo o professor Maciel, a tecnologia em questão apresenta duas significativas vantagens sobre os métodos convencionais de produção de biodiesel.

Normalmente, explica o docente, as técnicas disponíveis proporcionam um rendimento inferior a 95%. Ademais, os catalisadores presentes no mercado induzem a formação de resíduos indesejados, como sabão ou emulsão. “No caso do nosso catalisador, isso não ocorre. Além disso, o rendimento obtido nos testes que realizamos ficou na casa dos 99%”, assegura o professor Maciel. Ele lembra que a busca por combustíveis renováveis não é um desafio novo para a ciência. Rudolf Diesel, engenheiro alemão que concebeu o motor à combustão, usava em suas experiências óleo extraído do amendoim. Na Unicamp, as pesquisas em torno dos biocombustíveis remontam praticamente à fundação da Universidade, ocorrida em 1966. Em 1969, por exemplo, o então professor da FEA Leopoldo Hartman publicou um artigo importante sobre transesterificação de óleos vegetais. “Como se vê, temos tradição nesse tipo de estudo”.

Após a transferência da tecnologia do catalisador para o setor produtivo, um dos principais objetivos do professor Maciel é a implantação, na Unicamp, de um laboratório para a certificação de biodiesel. Seria o primeiro do gênero em uma universidade pública paulista. De acordo com ele, a missão do laboratório seria prestar serviços à indústria por meio da análise do biocombustível, mas também teria um forte caráter acadêmico, pois possibilitaria a realização de inúmeras pesquisas. A certificação, diz, asseguraria tanto aos fabricantes quanto aos consumidores a qualidade final do produto. O projeto está sendo formatado e conversações nesse sentido estão sendo mantidas com o Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT).

Emprego e renda – Em razão do contrato de licenciamento a ser firmado com a Unicamp, a BioCamp Indústria e Comércio de Biodiesel Ltda ergueu, em tempo recorde, uma usina para a produção de biodiesel considerada modelo em Campo Verde, Mato Grosso. Em menos de um ano, a unidade, que é totalmente automatizada, ficou pronta para entrar em operação. Os trabalhos de construção da planta contaram com a consultoria do professor Antonio José da Silva Maciel, da Faculdade de Engenharia Agrícola (Feagri) da Unicamp. Os sócios da empresa não informam qual o montante investido no empreendimento, mas estimam que ele gerará aproximadamente 120 empregos diretos a partir do momento em que as máquinas forem ligadas.

Ainda segundo a BioCamp, a usina também ajudará a impulsionar a agricultura familiar da região. Cerca de 700 famílias de agricultores estarão envolvidas na produção do biodiesel. A empresa doará perto de 100 quilos de pinhão manso para o plantio. Depois, comprará a safra, que servirá de matéria-prima para a geração do biocombustível. Inicialmente, explica o professor Maciel, a produção será feita a partir do óleo de girassol. “Entretanto, a usina poderá se valer de qualquer óleo vegetal, como mamona, soja etc. Poderá aproveitar, inclusive, óleo usado de cozinha. No caso da BioCamp, como um dos sócios é proprietário de frigorífico, um dos principais insumos para a obtenção do biodiesel será o sebo bovino”, informa.

O investimento da BioCamp na produção de biodiesel está alinhado com o Programa Nacional de Produção e Uso de Biodiesel (PNPB), ação interministerial lançada pelo governo federal em 2005. O objetivo do PNPB, como o próprio nome indica, é implementar de forma sustentável, tanto técnica como economicamente, a produção e a utilização desse biocombustível, com enfoque na inclusão social e no desenvolvimento regional, via geração de emprego e renda. Estimativas preliminares dão conta da formação de um mercado da ordem de R$ 1,2 bilhão por ano no país.

Para o diretor-executivo da Cooperbio, Luiz Fernando Orçati, a matéria-prima para produção do biocombustível pela cooperativa será óleo de soja e algodão. “Ela será fornecida pelos próprios cooperados, que utilizarão o biodiesel produzido em suas máquinas agrícolas”, disse Orçati. A usina está em fase de construção e há uma expectativa de início das atividades para setembro deste ano. Na opinião do coordenador geral da Unicamp, Fernando Costa, esse é um momento de satisfação e um orgulho muito grande para a universidade participar desse trabalho que muito contribuirá para o desenvolvimento do país. Compuseram a mesa oficial da solenidade de assinatura de contrato de licenciamento com a Cooperbio, o diretor-executivo da Agência de Inovação da Unicamp (Inova), Roberto Lotufo; o conselheiro fiscal da Cooperbio, Erai Maggi; o diretor presidente da Cooperbio, João Luiz Pessa; o coordenador geral da Unicamp, Fernando Costa; o deputado estadual Otaviano Pivetta (MT); o coordenador do projeto, Antônio José da Silva Maciel e o pesquisador Osvaldo Candido Lopes.

 

Fonte:

http://www.inovacao.unicamp.br/report/news-curtissimas070423.php

http://www.unicamp.br/unicamp/unicamp_hoje/ju/abril2007/ju355pag03.html

http://www.unicamp.br/unicamp/divulgacao/BDNUH/NUH_8383/NUH_8383.html

acesso em outubro de 2007

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