Brasileiros que dão asas à imaginação e suas invenções

Das coisas mais complexas às mais simples – Globo Repórter mostra três brasileiros geniais e suas invenções maravilhosas.

Que momento bom. Uma pausa na vida agitada do aposentado Ivan Drummond. Vida de aposentado agitada? Isso mesmo. Aos 81 anos, o advogado e oficial reformado Ivan Drummond tem muito o que fazer. Ele é um inventor em tempo integral.

“A invenção é irmã gêmea da inovação”, diz Ivan.

Ele experimenta uma das novidades que inventou: a mochila à prova d’água. Ideal para quem está sozinho e quer nadar sem sustos.

O bolo de dona Rosa ficou torto. Mas ela pode cortar as fatias exatamente da mesma espessura, graças ao marido inventor. O bolo cortado em três andares pronto para receber o recheio. Já, já vamos saber o toque de mágica do seu Roberto.

E adivinhem o que o Maurício bolou também para facilitar as tarefas de casa?

Três brasileiros e suas invenções maravilhosas. Eles também podem entrar para a história. Por que não? O que move a imaginação de uma pessoa criativa? Os gênios olham para as dificuldades e vêm, nelas, desafios.

Diante da escuridão, Thomas Edison – um menino que desistiu da escola – inventou a lâmpada. Outro que nunca foi bom nos estudos, Albert Einstein, acabou ensinando ao mundo que tudo é relativo. Inclusive o tempo. Guttemberg pegou blocos de madeira, com letras, juntou-as e inventou a imprensa. Santos Dumont acreditava no impossível: que o homem podia voar.

Mais visionário ainda foi Leonardo da Vinci, que imaginou o helicóptero, o paraquedas, a roupa de mergulho, a asa delta. Gênios tão diferentes, ao longo dos séculos, mostram que os limites da imaginação podem ser vencidos.

A toda hora, em partes diferentes do Brasil, surgem desafios e idéias brilhantes. Chegamos a Indaiatuba, a 100 quilômetros de São Paulo.

Edney: que invenção, que cabeça.

Roberto: é. Nós temos que desenvolver potencial.

Edney: eu soube que isto são pedaços de vassoura

Roberto: trabalhei vinte anos num departamento de engenharia industrial. Se eu resolvia na fábrica, não posso resolver para a minha mulher em casa? Ela precisava resolver o problema de cortar o bolo. Isso aqui é o pulo do gato, ó.

E o “pulo do gato” viemos ver para crer.

Quarenta e seis anos de casamento: ele já está aposentado. Ela já criou os filhos. E perdeu a conta de quantos bolos já confeitou. Mas pensa que eles se acomodaram? Dona Rosa quer tudo na mais perfeita ordem. E seu Roberto vai atrás colecionando soluções.

Rosa: é porque eu não tenho muito espaço aqui. É tudo improvisado.

E se o problema de dona rosa é espaço.

Edney: como fazer, quando há pouco espaço, e a pessoa quer ter um jardim? O que o senhor fez?

Roberto: um jardim suspenso.

Os vasos pendurados de um jeito harmonioso são admirados por dona Rosa, em pleno outono.

Rosa: havia muita orquídea aqui.

É, as orquídeas gostaram da invenção do seu Roberto. Ainda mais porque elas – no alto – podem ser regadas com mais cuidado e carinho.

E será que é fácil mesmo cortar o bolo com a invenção do seu Roberto? Bem, aí está a prova final. Nas pontas dois tocos de madeira do cabo de uma vassoura. E um fio de náilon.

Roberto: os nozinhos correspondem aos dentes de uma serra.

E é como uma serra que o bolo vai sendo cortado sem desabar. A massa parece moldada delicadamente para se dividirem em rodelas homogêneas.

O que o mestre da confeitaria vai achar da invenção do seu Roberto? Lá vai o pescador de ilusões vender seu peixe. O melhor ângulo para o corte perfeito. Que habilidade do seu Roberto. Agora, é a vez do especialista.

Zaqueu: tranquilo. Eu achei que era bem mais complicado o negócio.

Perguntei qual ele escolheria a faca ou o cortador?

Zaqueu: acho que o cortador é mais prático. Gostei. interessante. O bolo ficou bem mais reto, de nível. Porque com a faca, às vezes, começa de cima e acaba embaixo.

O inventor e o sabor da consagração.

Edney: E o senhor ganhou dinheiro?

Roberto: não. Depois de tantos anos eu providenciei a patente deste cortador no ano passado. Imaginando que ele possa ser vendido em larga escala, já não é de madeira. É de plástico.

Edney: a evolução do produto.

Eles estão sempre inventando e aprontando. Este é o Maurício,

Mauricio: Maurício de Oliveira Figueiredo,

E o que ele tem para mostrar para a gente? Um varal e uma idéia na cabeça.

Maurício: muito fácil.

Parece útil e prático pendurar o tênis para secar.

Edney: Este é o primeiro?

Maurício: este foi o primeiro.

O primeiro prendedor que ele fez foi de metal e só para tênis.

Maurício: qualquer tipo de calçado, ele vai fixar. Ao mesmo tempo, você coloca palmilha, o tênis e o cadarço. Você não precisa mais ficar virando, torcendo a palmilha, estragando. E o cadarço fica deste lado e você não tem que ficar enrolando o cadarço.

Edney: e pendura o tênis?

Maurício: e pendura no varal. Muito fácil.

Nada fácil é a vida de inventor não é mesmo Maurício?

Edney: é difícil conviver com este inventor? Fala a verdade.

Edite Rodrigues Figueiredo, mulher de Maurício: olha, um pouco.

Edney: Por que?

Edite: quando ele fala assim – tive uma idéia. Gente. Ih, vai começar tudo de novo.

Maurício: minha cabeça não para. Meu cérebro fica trabalhando 24 horas.

Edney: sua casa e sua fábrica no mesmo lugar.

E a casa dele fica em Perus, distrito de São Paulo. A linha de produção é na garagem. As bolinhas de polipropileno, que entram no tanque, são derretidas e formam os prendedores de plástico. A invenção do Maurício se multiplica.

Edney: você acha que você exige muito da sua família?

Maurício: eu acho que sim.

Vitor Figueiredo, filho do Maurício: tem que ficar com ele para ajudar. Ele sempre fala que só tem eu.

Mariana Figueiredo, filha do Maurício: ele pede ajuda para sair para vender, Às vezes a gente tem compromisso e ele pega no pé. Mas a gente ajuda.

Maurício: eles acabam participando de uma coisa que eu que eu coloquei como hoje principal. Eu sozinho não ia conseguir. Eles estão me ajudando a conduzir a situação.

Edney: vende direito?

Maurício: difícil, é difícil porque eu sou mais um. Eu saio para vender, de boca em boca.

Edney: como um camelô?

Maurício: sou camelô. Sou camelô do meu produto. As pessoas falam: eu estou cansado de as pessoas me abordarem. No farol. Eu sou mais um oferecendo um produto. Eu peço licença, para eu mostrar o meu produto. Eu sou um inventor e eu quero mostrar o meu produto.

Edney: você puxa um carrinho?

Maurício: levo um tênis. Faço a demonstração na hora. Não imaginava as dificuldades para mostrar um produto que não existe.

Edney: e a sua esperança, qual é?

Maurício: a minha esperança é que alguém me ouça, que alguém goste do meu produto.

É. Eles não desistem, não. A idéia do seu Ivan também é simples. Como é que ninguém pensou nisso antes? O guarda-sol, que também pode ser guarda-chuva, vai preso na mochila. E a mochila. É pra lá de especial: seu Ivan pensa em tudo. E, assim, sem tempo ruim, ele vai à praia em um raro dia em que se deu folga.

Ivan: é a mochila com que você vai à praia sozinho, Põe todos os seus pertences. E não entra água. Então, quando a pessoa vai à água, mergulha com a mochila.

E seu Ivan faz a prova pra gente ver: roupa, dinheiro, toalha, relógio. Tudo sai da mochila sequinho. A mochila é apenas um dos inventos de que ele se orgulha.

Seu Ivan passou dois dias contando pra gente todos os projetos que já fez na vida. Capa de proteção para mala, aparelho para evitar que o leite derrame no fogão, elevador de ônibus e segurança máxima na pista do aeroporto.

Ivan: há uma tendência muito grande, quando se fala em invenção – ligada a coisas materiais. A mochila. Agora, existe a inovação. Há quase que uma simbiose entre as minhas invenções e essa parte social.

Das coisas mais complexas às mais simples – a cabeça inventiva do seu Ivan está sempre a mil por hora.

Ivan: meu carro enguiçou, eu boto isso aqui na janela do carro. Qualquer um sabe que eu estou parado. Eu não preciso saltar do carro para ser atropelado.

Só falta mesmo seu Ivan inventar um método novo para poder aprender a tocar o teclado.

Edney: e a sua família acha o que?

Ivan: acham que eu já fui longe demais. Mais de dez anos gastando muito dinheiro você quer ter uma idéia? Não é choro. Já foi o fundo de garantia de uma empresa em que eu trabalhei. Já foi um carro. Já foi a venda de um apartamento.

Maurício: se eu tivesse possibilidade de ficar focado somente numa sala de pesquisa, Tenho certeza de que eu ia conseguir colocar muitas coisas ainda que talvez pro futuro ia ser útil para alguém.

Roberto: quando uma pessoa tem uma idéia, tem que lutar por ela. Tem que lutar.

Se depender deles, os inventores brasileiros ainda entram para a história. Não foi assim com Santos Dumont, que sempre deu asas à imaginação?

 

Fonte:
g1.globo.com

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