“Aerostato”

A capacidade inventiva e a imaginação do padre jesuíta Bartolomeu Lourenço de Gusmão contribuíram para o religioso brasileiro tornar-se famoso, sobretudo por seus inventos engenhosos que o incluem entre os pioneiros da aeronavegação, e um dos precursores da aeronáutica. Filho do cirurgião-mor Francisco Lourenço e de Maria Álvares. Bartolomeu Lourenço de Gusmão nasceu em Santos, SP, em dezembro de 1685, tomou o sobrenome Gusmão em homenagem ao provincial dos jesuítas no Brasil. Viveu apenas 39 anos. Cursou com o irmão, Alexandre de Gusmão, o seminário jesuíta de Belém da Cachoeira, na Bahia, onde se tornou noviço. O irmão Alexandre chegou a ocupar o cargo de secretário do rei D. João V e tornou-se conhecido como o negociador que consolidou as fronteiras brasileiras expandidas para oeste pelos bandeirantes, anulando o que fora disposto pelo Tratado de Tordesilhas. Aos 15 anos foi para Portugal, onde se formou em direito religioso, em Coimbra. Ordenou-se sacerdote da Companhia de Jesus. Ordenado, mudou-se para Lisboa em 1701, onde realizou estudos de matemática e física mecânica. Destacou-se como pregador religioso e recebeu do rei Dom João V o cargo de capelão da Casa Real. Dedicou-se, a partir de então, a seus inventos. De volta a Salvador, construiu uma bomba elevatória para abastecer o colégio dos padres com a água do rio Paraguaçu. Foi essa sua primeira invenção.

 

Concluídos os estudos secundários, embarcou para a metrópole, em 1705 e vindo a matricular-se na Faculdade de Cânones da Universidade de Coimbra em 1708. Aí, desenvolveu notavelmente os seus estudos de Física e Matemática que desde a adolescência tanto o tinham interessado. Consta que ao observar uma pequena bola de sabão pairando no ar, se inspirou para a concepção de um balão, a bolha ao passar sobre um foco calorífico foi fortemente impelida às alturas, como se alguém a tivesse empurrado. Tinha em mãos a chave do fenômeno e a explicação que tanto procurava: a leveza do ar quente em relação do ar frio, constituía uma força ascensional irresistível, capaz de erguer um objeto relativamente leve, às alturas. Desta forma ficou Gusmão sabendo que o ar ambiente, quando aquecido, perdia densidade e tornava-se mais leve e em consequência passava as camadas superiores da atmosfera, subindo sempre, visto como não podia manter-se nas camadas baixas onde paira o ar frio e pesado.

De qualquer forma, logo em 1708 trabalha afincadamente no projeto de um engenho “mais-leve-que-o-ar”, em detrimento de tudo o resto. Entrega então a D.João V a petição de privilégio sobre o seu “instrumento de andar pelo ar”, que lhe é concedida por alvará, em 19 de Abril de 1709. Conjuntamente com o alvará, D. João V decidiu concorrer para os gastos da construção do aparelho, bem como lhe deu a mercê de Lente de Prima de Matemática na Universidade de Coimbra, com um rendimento vitalício substancial. Era o que Bartlomeu de Gusmão precisava para se dedicar inteiramente ao seu projeto, como na realidade o fez, na quinta do duque de Aveiro, em S. Sebastião da Pedreira. As fontes da época revelam a utilização de muito arame na construção (o balão de Gusmão não era um simples balão de papel de feira) bem como a realização de várias experiências com balões de papel até se chegar à experiência definitiva que a história registou.

Também escreveu um opúsculo intitulado “Vários modos de esgotar sem gente as naus que fazem água”, e em 1707 fez uma conferência sobre o tema, na qual expôs um sistema que havia inventado para bombear água para fora do casco dos navios, inaugurando assim a automação do sistema de drenagem de embarcações. De volta a Portugal, após uma exibição pública em Lisboa, apresentou a D. João V uma petição de privilégio, na qual dizia haver inventado, um aparelho voador, capaz de fazer “200 e mais léguas por dia”, deixando imprecisa e incompleta a definição do formato, do aparelho, material de construção e modo de funcionamento. Conforme o historiador Afonso Taunay observou, a publicação do alvará que concedeu tal privilégio em 17 de abril de 1709 constitui ratificação régia do êxito da exibição. São assim imprecisas e contraditórias as notícias sobre as experiências com o engenho, denominado “Passarola” ou “Balão de São João”. Consistia numa esfera de papel, no interior da qual ardia uma chama. Alguns testemunhos dizem que na primeira apresentação, diante do rei, o balão subiu efetivamente a uma altura de 4,60 metros antes de queimar-se. Outros informam que o engenho era uma armação de vime coberta de papel que teria subido a uma altura de sessenta metros, a mesma da torre de Lisboa.

Alguns autores revelam que em 5 de agosto de 1709, o Padre jesuíta Gusmão realizou, perante a corte portuguesa, no pátio da Casa da Índia, em Lisboa, a primeira demonstração da Passarola, uma máquina de voar, espécie de balão, que havia concebido e construído. O balão pegou fogo sem sair do solo, mas, numa segunda demonstração, elevou-se a 4 metros de altura. Tratava-se de um pequeno balão de papel pardo grosso, cheio de ar quente, produzido pelo “fogo material contido numa tigela de barro incrustada na base de um tabuleiro de madeira encerada”. Segundo Salvador Antônio Ferreira, com receio que pegasse fogo aos cortinados, dois criados destruíram o balão, mas a experiência tinha sido coroada de êxito e impressionando vivamente a Coroa. O fato é confirmado em depoimento do então cardeal de Lisboa (futuro papa Inocêncio XIII) que se referiu ao risco de incêndio. Logo Bartolomeu passou a ser ridicularizado pelos que acreditavam ser ele “sócio do diabo”.

Na terceira tentativa, a Passarola, movida a ar quente, teria voado diante do rei e da rainha, na Casa da Índia, e descido no terreiro do Paço, em 8 de agosto de 1709. A partir de então, famoso, o religioso brasileiro passou a ser chamado de “padre voador”, tendo muitos historiadores erroneamente o consagrado como o primeiro aeronauta da história. Bartolomeu Lourenço de Gusmão foi o primeiro, em toda a história da aeronáutica, a construir um balão que subiu livremente na atmosfera, mas não há evidências de que este frágil balão tenha feito um voo tripulado. Afonso de Taunay observa que tal fato não teria passado despercebido aos mais bem informados de seus biógrafos tais como Salvador Antônio Ferreira, Francisco Leitão Ferreira e Soares da Silva assim como ao cardeal Conti de Lisboa, futuro papa Inocêncio XIII que assistiu a experiência e em momento algum aludiu ao fato de haver Gusmão se elevado aos ares. Se a glória da prioridade da invenção dos aeróstatos se deve a Bartolomeu de Gusmão, a da primeira viagem aeronáutica cabe sem dúvida alguma aos franceses Pilatre de Rozier e ao Marques d’Arlandes na famosa e aventurosa jornada de 20 de novembro de 1783, coroada do maior êxito.

Aconteceu que não obstante o êxito, apareceram memoriais e estampas simultaneamente em Portugal, Londres e Viena, descrevendo um aparelho voador de concepção fantástica, onde a imaginação atingia o auge do absurdo, à semelhança das lendas mitológicas, tal como um pássaro de grandes asas laterais, cujo movimento envolvia forças magnéticas, peças de âmbar, quinta-essências, etc. Essa estampa difundiu-se por diversos países europeus, e em função dela diversos historiadores europeus e norte-americanos situaram Gusmão apenas como um dos muitos precursores da longa cadeia de evolução da aeronáutica, cujos trabalhos não possuíam nenhuma base científica. O que havia em tudo isso de espantoso era que fora o próprio Gusmão o autor destas obras, no intuito de burlar e a impedir a ação dos que pretendessem violar seu segredo. Um dos maiores amigos de Gusmão em Portugal, o fidalgo Marques das Fontes e Arantes confessou em depoimento: “que os autores da estampa mistificadora do Passarola foram o próprio Bartolomeu e seu discípulo conde de Penaguião”. Seguindo a descrição dada pelo citado cardeal Conti, tratava-se a Passarola de um “corpo sferico di poco peso”, aos moldes de nossos atuais balões de São João.

A primeira contribuição à ciência elaborada no continente americano, antes de Benjamin Franklin, foi o extraordinário feito realizado, em 1709, pelo Padre Jesuíta brasileiro Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que conseguiu a ascensão em um balão cheio de ar quente antes dos irmãos franceses Montgolfier. O invento de Montgolfier ao que tudo indica, segundo as revistas francesas Nouvelle Europe e L’Aeron do início do século XX, foi mera cópia do aeróstato de Gusmão, uma vez que após sua fuga para a Espanha deixou seus planos inventivos com seu irmão e notável cientista Alexandre de Gusmão. Sabe-se que quando Alexandre esteve em Paris, manteve estreitas relações de amizade com o cientista José de Barros, o qual por sua vez era amigo pessoal de Montgolfier.

Essa experiência foi a primeira a permitir a realização concreta do sonho de voar, que acompanha a humanidade desde o mito de Ícaro da Grécia antiga. Depois do inventor brasileiro, houve nos dois séculos seguintes uma verdadeira proliferação de lançamentos de balões, a ponto do escritor norte-americano Edgar Allan Poe (1808-1849) imaginar no conto Aventura Sem-par de certo Hans Pfaall (1835) uma possível viagem à lua com esse meio de transporte! O Padre jesuíta e inventor brasileiro, Bartolomeu de Gusmão, deixou registrados os métodos que usou para construir seu aeróstato na obra “Descrição do novo invento aerostático ou máquina volante, do método para produzir o gás ou vapor com que esta se enche”. Entre 1713 e 1716 viajou pela Europa. Nessa época, foi registrado, na Holanda, o invento de um “Sistema de lentes para assar carne ao Sol”, atribuído ao padre Gusmão. Viveu em Paris, trabalhando como ervanário para se sustentar, até que encontrou seu irmão Alexandre como secretário do embaixador de Portugal na França. O padre Bartolomeu de Gusmão voltou a Portugal, mas foi vítima de insidiosa campanha de difamação. Acusado pela Inquisição de simpatizar com cristãos-novos perseguidos pelo Santo Ofício, foi obrigado a fugir para a Espanha. Ao passar pela cidade de Toledo (Espanha) adoeceu, devido ao que se recolheu ao Hospital da Misericórdia daquela cidade, onde veio a falecer. Pelas declarações que seu irmão mais moço, frei João Álvares de Santa Maria, fez à Inquisição espanhola, o padre Gusmão estaria sofrendo das faculdades mentais. Este, provavelmente, foi um argumento astucioso para salvá-lo das garras da Inquisição. Benedito Calixto, um dos biógrafos de Gusmão, sustenta que o processo movido pela Inquisição contra o inventor não teria nenhuma conexão com suas exposições aerostáticas. Segundo ele, a Inquisição jamais se preocupava com descobertas cientificas. Taunay endossa essa tese.

Fonte:

http://www.balaojunino.hpg.ig.com.br/personalidades/personalidades_001.htm

http://br.geocities.com/discursus/archistx/aeronhis.html

http://www.rudnei.cunha.nom.br/FAB/port/medbg.html

http://www.emfa.pt/museu/histavi.htm

http://www.allstar.fiu.edu/aero/history1b.htm

Acesso em março de 2002

http://www.itu.com.br/iturismo/jonas.htm

Acesso em agosto de 2002

http://www.nascente.com.br/enciclop/cap002/011.html

Acesso em outubro de 2002

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